FBI Vs Apple, a batalha pelo realismo
Num episódio recente do Last Week Tonight, o sempre divertido John Oliver explica razoavelmente porque é que devemos defender aquilo a que agora muitos chamam "encriptação forte". Podem ver o vídeo aqui:
Contudo eu acho que há alguns argumentos melhores, e vou explicar alguns:
Encriptação é conseguida com matemática.
Ao contrário de muitas coisas na nossa vida não é possível negociar para que 2 + 2 = 5.
Podemos tentar fingir que 2 + 2 = 5, mas não é. E como em tudo na vida, negar a realidade por muito desagradável que ela tenha facilmente acaba por nos trazer consequências negativas mais tarde.
Enfraquecer a encriptação, ou a segurança dos procedimentos operacionais da sua utilização para facilitar as tentativas de quebrar com uma enorme quantidade de tentativas por segundo. Pode de facto facilitar a tarefa legitima das autoridades legitimas, com um mandato judicial legitimo. Mas infelizmente isso compromete todos e não apenas quem é o alvo do mandato.
Há uns anos, o Governo dos EUA, proibiu a exportação de software que suportasse "encriptação forte". O resultado dessa proibição, foi que as empresas passaram a só criar e vender software com encriptação fraca, que podia ser facilmente quebrada por quase qualquer um com intenções maliciosas.
Ao constatar os efeitos negatívos na segurança informática, o Governo dos EUA acabou por reveter essa decisão de embargar a encriptação forte. Contudo infelizmente foi demasiado tarde e ainda hoje vivemos algumas as consequências negativas deste embargo à "encriptação forte", porque ainda é utilizado algum desse software que faz uso dessa encriptação fraca.
A História ensinou-nos uma lição é bom que não a tentemos esquecer, porque actualmente os efeitos negativos podem ser muito piores para a sociedade como um todo e para cada um dos indivíduos que compõem.
A encriptação, tal como a matemática e muitas outras áreas do conhecimento humano são universais, ou seja por todo o mundo há muita gente que a conhece profundamente (embora menos que a própria matemática).
Mesmo que algum país decida banir dentro das suas fronteiras a "encriptação forte", a realidade é que ela tornou-se demasiado útil e importante para demasiada gente em todo o mundo, e por isso ela estará disponível para todos os outros. Aliás ela estará mesmo disponível dentro do país que a tentar proibir, porque certamente muitos vão aceitar correr o risco de a utilizar sem autorização do governo.
Simplesmente não há forma eficaz de conter a encriptação forte.
Tentar impedir a "encriptação forte" é um acto tão fútil quanto estúpido, e só colocará em risco os cidadãos cumpridores da lei, porque a encriptação forte protege mais e melhor os cidadãos e os estados todos os dias, que todas as forças policiais, militares, e tribunais de todo o mundo.
Acabar com essa "encriptação forte" é extraordinariamente irresponsável!
A encriptação forte também é a forma mais barata e simples de proteger os cidadãos e estados uma grande quantidade de ameaças, que serão cada vez mais prevalecentes num mundo em que está tudo digitalizado e interligado.
Eu lamento imenso o efeito secundário seriamente negativo que a encriptação forte tem na segurança e na justiça, mas o forte efeito positivo que tem também para a segurança e para a prevenir a necessidade de usar a justiça, ultrapassa largamente o efeito negativo que ela tem.
Por tudo isto eu sou contra qualquer enfraquecimento da encriptação, ou enfraquecimento objectivo da sua utilização.